Poeta em Queda |
Pedro Alberto, declamador de Poeta em Queda, um grande amigo e um artista que está conseguindo conquistar seu espaço em diversos saraus da região.
A poesia se tornou sua aliada e seu meio de expressar sua visão diferente e ousada do Mundo, pois todos nós sempre vamos ter nossa CLAUSTROFOBIA
Como
surgiu o Poeta em Queda?
Poeta em Queda surgiu como um
modo de declarar uma identidade, de tomar consciência das minhas capacidades e
limitações em relação às pessoas e à sociedade em que estou inserido. Eu diria
ainda que surgiu através da mistura de diversos fatores – o meu contato tardio
com saraus, com a arte de rua, com certa noção que tomei de política...
Em
termos de biografia, o primeiro sarau que consigo recuperar na memória e que
marco como o nascimento do projeto Poeta em Queda foi o “Palavras Queimadas”,
organizado pela maravilhosa Bárbara Ariadene, em Sorocaba. Quanto ao nome
“Poeta em Queda”, ele só surgiu bem depois, quando comecei a me apresentar com
o João Maresia (jjthewave), porque ele achava que era melhor eu utilizar um
nome artístico ao invés de Pedro Alberto.
Quanto
ao seu significado, pode representar tanto o fato de uma entrega total à poesia
(“cair de cabeça”), quanto a ideia de uma queda livre em que, enquanto caio,
também tento voar e alcançar meus objetivos. Mas, uma hora, o chão pode
chegar...
Quais
são as quedas do poeta?
São
muitas. Mas este ano caí de cabeça na minha poesia: foi o ano de maior número
de apresentações, por Sorocaba, São Carlos ou outras cidades próximas dessas
minhas duas casas. Também é o ano que caí em uma desconstrução profunda, parando
para refletir sobre os modos como me visto, lugares que frequento, do que eu me
alimento e, consequentemente O QUE eu alimento: fazer algumas coisas em
detrimento de outras possui impactos diferentes no que serei num futuro e até
mesmo no modo como olho para o passado. A maior “queda do poeta” no momento é,
então, pensar naquela pergunta que todos já nos fizemos: “quem sou, e quem
posso ser?”.
Quais
os desafios para ser poeta no Brasil?
Creio
que muitas outras pessoas possuam mais segurança para responder isso em relação
às editoras e às dificuldades de publicar poemas. Para mim, a maior dificuldade
é de outra ordem. É abrir os olhos para o modo como as palavras se refletem
sobre aqueles com quem falamos – em geral, desde muito
cedo somos levados a acreditar que não podemos entregar nossos corações àquilo
que gostamos de fazer, e a pensar que outras pessoas podem nos dar “a salvação”,
seja na política, seja na religião, seja até mesmo nas relações familiares. Mas
não nos fazem perceber que outras pessoas também podem depender de nossas
ações, que nós também podemos alterar as realidades em que estamos inseridos.
Para
mim, o maior desafio em ser poeta é a dificuldade de se desconstruir e reerguer
como ser humano – não porque o poeta é maior ou melhor do que qualquer outra
pessoa (simplesmente NÃO É), mas justamente porque o poeta é uma pessoa e, como
toda pessoa, precisa encontrar suas singularidades para alcançar seu máximo.
Isso é universal.
Quais
os aprendizados nos Saraus?
O
que mais aprendi com minhas apresentações é o poder que a poesia possui de
mobilizar as pessoas a pensarem sobre assuntos que não haviam considerado
antes, e de fazer com que tomem posições, sejam políticas, sejam em relação aos
seus sentimentos. Aprendi que as pessoas para quem escrevo são também parte da
minha poesia, e que não posso nem quero ignorá-las. Acho que o coração de quem
escrevenão está naquilo que ele deixa sobre o papel ou sobre a tela, mas sim na
relação que ele tem com as pessoas e com o mundo ao seu redor. A vida não cabe
na poesia, e a poesia não pode salvar o mundo, embora ela certamente possa nos
despertar e nos acolher quando precisamos de força – e ela exige retorno!
Qual
a sua visão sobre a cultura nacional?
Acho
um pouco difícil pensar em termos de “cultura nacional”, em dois sentidos: o
primeiro, é que não conheço o país todo, mesmo em termos de produção artística.
Gostaria muito de ter contato com pessoas de outras regiões, mas até o momento,
diria que sou bastante desconhecedor do que está acontecendo por outros
lugares. Em segundo lugar, mesmo nos lugares que eu conheço, a cultura se
manifesta de tantos modos diferentes que parece difícil falar num geral.
Mas,
enfim, a cultura nacional é também a cultura em que estou inserido, seja ela a
das raízes (dos meus avós, por exemplo), seja a cultura da experimentação, do
hip hop, do que você quiser. Defendo com unhas e dentes que a cultura das
pessoas mais ignoradas é também uma cultura maravilhosa, com todas suas
dificuldades e problemas como em qualquer caso.
Meu
posicionamento é de que muitas pessoas são levadas a desconsiderar seus
próprios atos culturais como tal: “eu não deveria falar assim, eu não deveria me
vestir assim, e o que eu faço não é digno de nota”. Essa lógica precisa ser
rompida, até mesmo entre artistas: conheço muitxs poetas e artistas por aí que
são muito excludentes, considerando Arte somente aquilo que elxs e seus grupos
fazem. Isso é inaceitável para mim.
Que
artistas te influenciam?
Essa resposta será um pouco longa
(risos). Sou influenciado por uma variedade de artes diferentes, não somente a
poesia. Ou melhor: não somente poemas, pois poesia pra mim é algo que pode ser
expressado de diferentes formas, em diferentes linguagens.
Mas
entre os poetas, diria que os que mais me influenciam são aqueles com que
convivo ou que são do meu próprio tempo. Para citar alguns nomes: Felipe
Santos, Victor Rodrigues, Giovani Baffô, Bosco da Cruz, NiBrisant, Levi
thePoet, e mais recentemente Pedro Bomba e Suely Bispo. Também tenho admirado
muito o trabalho da Letícia Conde, com quem tenho a honra de declamar lado a
lado. Ela tem me animado bastante para continuar com a poesia. Isso tudo sem
falar em todxs poetas sorocabanxs com quem tenho tido contato, principalmente
“a nova geração” de que me sinto parte: Bárbara Ariadene, Jaina, Mayara
Beltram, André Ferreira, Isabela Salck, entre tantas outras pessoas incríveis.
Entre
outros poetas e prosadores, certamente aparecem nomes como Carlos Drummond de
Andrade, Anna Akhmatova, Mario Quintana, Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Walt
Whitman, Li Bai, Gabriel García Marquez, entre outros.
Por
falar em prosa: “A Onda” e “O Quarto de Jacob”, de Virginia Woolf; “Chamado
selvagem” de Jack London, “A Metamorfose”, de Kafka; praticamente tudo de
Tolkien; a série “Harry Potter”, da Rowling; Nárnia do Lewis; “Ponte para
Terabítia” e “O Mestre das Marionetes”, de Katherine Paterson; “A Revolução dos
Bichos”, de George Orwell; “Trópico de Câncer”, de Henry Miller, “Não verás
país nenhum”, de Ignácio Loyola Brandão.
Na
música, posso destacar a galera com quem tenho corrido mais nos últimos tempos:
com certeza João Maresia (ex-JJ The Wave), que me incentivou a começar a declamar
mais; Ananda Jacques, com quem eu faço certas parcerias e com quem pretendo
fazer apresentações mais trabalhadas logo mais; Francisco, elHombre, banda que
abriu meus olhos e corações para a América Latina e que possui algumas das
pessoas mais humildes que eu conheci. E aí vão, claro, as outras tantas bandas
atuais que admiro muito: Medrar, Mil Pássaros Dançando, Gregos e Baianos,
Bardos e Nômades, Incesto Andar, Justine NeverKnewtheRules, Siba, Labirinto,
Sala Espacial...
Quanto
a filmes, devo dizer que não possuo muita propriedade. Mas destaco aqui os
filmes de DarrenAronofsky (Pi, Réquiem para um Sonho, Cisne Negro...), que pra
mim possuem uma linguagem muito poética na forma de tratar temas que,
normalmente, são escondidos ou tratados com certo receio pelas pessoas. Também
gosto muito de “Labirinto do Fauno”, do Guillermo del Toro. É um filme muito
sensível, ao mesmo tempo em que possui uma brutalidade muito clara e se
posiciona ideologicamente num lugar de que compactuo. Ali a poesia está na força
política tanto quanto na força mística, e isso é algo que eu gostaria de saber
fazer.
Bom,
pra terminar, a arte visual, gráfica: amo os quadros de ZdzislawBeksinski e de
KrisKuksi (que também faz esculturas magníficas). Os desenhos de Alex CF também
tem sido uma grande inspiração, bem como as artes de Pat Perry e João Ruas.
Entre amigxs e conhecidxs, destaco as artes de Kaji (Pato Mangaga), DahFiore,
Bárbara Ariadene, Mayara Beltram, Francinne Lopes, Michelle Trindade e da
Amanda Morettini.
Quais
as próximas metas do ano?
Minha
ideia é que até o final do ano eu diminua o número de apresentações e
participações em saraus para poder retomar tudo o que aconteceu até o momento e
fazer um balanço das coisas que aprendi. A Letícia também está planejando
algumas oficinas de livros artesanais, então pode ser que até dezembro o
pessoal se surpreenda com meu primeiro material selecionado – o que é muito
difícil de fazer, com tantos poemas importantes para mim que já foram escritos.
Também não quero que seja um livro apenas de poesia, quero poder contar um
pouco do que aconteceu para chegar onde cheguei.
Mas
a maior meta é continuar vivendo com o máximo que eu conseguir de resistência:
viver da maneira mais digna possível deve sempre ser o principal objetivo.
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