domingo, 14 de julho de 2013

Conto: Arena dos Anjos



Seus lábios estavam dando um dos últimos leves beijos, um dos últimos toques.
- Thom... Eu te amo... - uma lágrima e o sorriso começou a surgir no rosto de Simone.
Thomas beijou sua bochecha e a abraçou ternamente, ele a olhou nos olhos, lembrando do primeiro momento em que a viu, o momento em que seu coração parou por um momento de existir, o momento em que sua alma se encontrou com a dela, em um simples bar com seus amigos.
O sorriso de dela o emocionou desde o inicio, um simples sorriso o fazia se sentir vivo, alguém novo dentro dele, alguém melhor.
- Eu vou sentir sua falta-Disse Thomas.
- Eu sempre vou estar com você.
Ele se aproximou e beijou sua testa tocando sua mão:
- Me espere do outro lado.
- Não se vá, antes de ser feliz aqui nessa terra.
Simone apertou um pouco as mãos dele, sorriu e disse:
- Posso te pedir um último favor?
- Qualquer coisa... - Respondeu ele sorrindo, porém seus olhos estavam começando a lagrimejar.
-Quando eu me for... Você pode levar meu corpo até as montanhas?
-A nossa montanha?- Ele perguntou tristonho
-Ela mesma, eu não quero que meu corpo fique com os outros mortos. - Disse sorrindo- Ai- Ela apertou o peito e sorriu.
-Tudo bem?
- Somente dores... Me leve até nossa montanha, deixei uma surpresa para você.
Thomas a olhou e seu olhar estava pesado, suas lágrimas queriam cair, mas não era capaz de deixá-las cair. Simone precisava partir em paz
Simone sorriu novamente, seus cabelos ruivos reluziam na fraca luz do quarto do hospital, apesar das olheiras seus olhos continuavam com a cor viva azul e seu sorriso, seu perfeito sorriso apesar da dor que sempre ressurgia.
- Eu a levarei.
- Adeus... Meu anjo – Ela disse sorrindo.
Seu último suspiro aconteceu e numa escuridão sem fim ela se foi.
Thomas a olhou, não conseguia dizer nada, sua mente estava vazia como seu coração, a única alegria na sua vida tinha sumido, e ele estava ali sozinho para sempre.
Seu coturno estava pesando, a camisa da banda que ele amava estava perdendo a cor, sua calça preta pesava e seus longos cabelos negros fechavam a visão do futuro.
Ele a abraçou, e sentiu sua pele fria, sorriu e lembrou-se de um momento do passado:
- Você é muito branca- Disse Thomas sorrindo.
- E você é mais branco ainda- Ela respondeu batendo em seu braço.
Ele a puxou no chão e disse:
- Repete isso.
- Seu branco. - Disse ela sorrindo.
Thomas fez cócegas no seu corpo e ela ficou sorrindo o tempo todo, e dizendo para parar.

Quando parou, ficou em cima dela e sussurrou em seu ouvido:
- Te amo do jeito que você é.
Em seguida a beijou profundamente, pois naquela época, ela nunca partiria e ele apenas prometeria para fazê-la feliz.
Essa lembrança o machucou ainda mais, seu coração não estava mais pulsando, o que ele poderia sentir, além da dor?
Quem sou eu... Sem você?- Ele repetia o tempo todo, olhando para seu corpo imóvel.
Sua mente não era a mesma, sua vida, se é que era capaz de chamá-la assim, também não era e a escuridão que ele ouviu falar se tornou real.
- Sinto muito. - Disse o médico tocando em seu ombro.
- Ela se foi... Foi para sempre, e eu nem sei se fiz tudo o que ela merecia. - As lagrimas caiam, Thomas sentia seu coração fraco, sua alma foi possuída por dores incuráveis, dores que nunca mais retornariam a ser alegria.
- Fez sim, você é o homem que mais ficou perto da amada, você não desistiu dela... Enquanto existem muitos que não são capazes de segui-las até o fim, você esteve presente até nos momentos mais difíceis.
Thomas a abraçou, e sentiu o corpo que ele amou pela última vez, e disse sussurrando em seu ouvido:
- Prometo te levar em nossa montanha.
Ele se levantou olhando para o médico, as lágrimas caiam de seu rosto e não conseguia conter a dor.
- Doutor não haverá um velório para ela, eu sou a única família que ela tem, e eu me lembro de que ela pediu para não ter um velório.
- O que você pretende fazer?
- Cumprir o que me foi pedido
- O que devo fazer com o corpo dela?- Perguntou o médico.
- Nada faça. Amanhã a levarei... - Disse Thomas.
Antes de sair do quarto do hospital, se aproximou novamente dela e beijou seu rosto, sua bochecha e sua testa.
Seu corpo estava pesado, precisava respirar sair logo daquele lugar, não conseguia mais ouvir os choros de todos no hospital, pois muitos tinham perdido pessoas que amavam naquele mesmo dia.
A cada momento que andava pelo hospital, percebia que ele não estaria mais com ela, a cada momento que se afastava do quarto onde ela estava mais sentia inevitável esse fim.
Ao entrar no banheiro, se olhou no o espelho, seus olhos estavam com algumas olheiras profundas, pois desde que Simone ficou doente, suas noites se tornaram insuportáveis.
Entretanto sem ela, as noites seriam eternas e sem cura, ele bem sabia, seu corpo inteiro sentia que seria seu fim, teria que cumprir as suas promessas, mas não sabia se no fim delas, teria forças para viver.
O espelho refletia a verdade ou apenas ilusão? Sua vida estava se desfazendo diante de seus olhos, e ele não podia fazer mais nada, sua dor era imensa, suas forças estavam se despedindo de seu corpo e em sua mente um único nome era dito: Simone.
Ele sentiu um toque em seu ombro e seus olhos se fecharam, ele conseguia ouvir a voz de Simone, sentir seu cheiro novamente, e no momento em que abriu os olhos, viu ela no espelho ao seu lado.
Porém quando se virou para olhá-la, ela não estava ali, estava apenas no reflexo do espelho.
- Cumpra sua promessa, seja forte. - Simone sussurrou em seu ouvido e beijou sua bochecha.
A loucura estava tomando conta de seus pensamentos, agora ele tinha certeza, como poderia sentir seu beijo, sendo que tinha a deixado dormir para sempre em sua cama.
Ao sair do hospital, seu coração pulsava lentamente, ele ouvia o choro de outras pessoas que perderam pessoas que amaram, mas ninguém chorava por Simone.
O sol começou a tocar seu rosto, seu pulso se fechou e seu coração reagiu ao chamado de sua alma, era necessário fazer o prometido, pois antes de se encontrar com ela novamente, queria poder saber que pelo menos na morte de Simone ele foi útil.
A cada passo mais distante do hospital ele sentia vontade de gritar para ela voltar, para ela estar caminhando ao seu lado, cantando e pulando em seu corpo, como sempre fazia.
Apesar da distância ele foi andando para casa, chorando e sorrindo com as suas lembranças. Lembranças de dor, lembranças de felicidade.
Seu corpo pesava, e quando entrou em casa, olhou para todos os lados, lembrando de como Simone vinha correndo ver ele, não se importando com o que estivesse fazendo.
As imagens em sua mente eram quase reais, e quando a via, seria capaz de tocar nela, ou pelo menos imaginar fortemente que essas lembranças poderiam retornar a sua vida.
Em cada parte da casa, sentimentos vinham em seu coração, o amor era a razão da casa estar ali, e seu mundo se encontrava ali, pelo menos era isso que ele sentia.
Na cozinha seu caminhar era lento, pois a sentia em cada parte, quando se sentou à mesa da cozinha , pegou uma maçã na fruteira, mas não conseguiu come-la inteira.
Sua mente estava cansada, precisava descansar, o dia seguinte teria que cumprir a promessa, um dia que ele nunca quis que chegasse.
Foi até o quarto e deitou na cama, não tirou nenhuma roupa, nem seu coturno, queria apenas fechar os olhos e sumir de todo aquele tormento. Sumir simplesmente de toda aquela dor.
Enquanto ele dormia, seus sonhos a traziam de volta, tocando e o cainhando, partes dos sonhos eram pedaços do passado, enquanto outra parte era sua ilusão idealizando uma manhã melhor.
Muitas vezes durante a noite acordou, pensando ouvir os passos dela ou seu toque na cama, mas foram apenas visões da dor.
Quando acordou, apenas foi à cozinha e pegou um pacote de bolacha salgada e a garrafa de água que Simone deu no primeiro passeio a montanha que ela tanto amava.
Thomas sorriu tristemente:
- Você se foi, e me deixou lembranças que nunca vou esquecer.
Olhou a cozinha mais uma vez e viu a foto dos dois no primeiro dia em que a encontrou, ela sorrindo e ele bobo a olhando.
- Isso nunca vai se repetir de novo... Você foi única na minha vida. - As palavras pesavam e a verdade se tornava intensa para Thomas.
Thomas foi para o hospital, buscar o corpo de Simone, mas quando entrou no quarto, não conseguiu olhar para ela.
-Como você está?- Perguntou o médico
-Um pouco bem.
O médico tocou em seu ombro e disse:
- Faça o que é preciso, só assim você terá paz.
Thomas se aproximou do corpo, e puxou o lençol que estava em cima de Simone.
Ela ainda estava usando o pijama que ele tinha comprado um com um personagem de um desenho que eles assistiam o tempo todo juntos.
Ao olhá-la e ver que seus olhos ainda sorriam da mesma maneira em que ele a deixou, foi algo forte para se ver, em sua vida nunca tinha perdido alguém.
Sempre foi sozinho, um homem solitário até a conhecer, e agora tudo voltaria como estava, tudo voltaria da maneira que ele não queria mais.
Talvez a dor sumisse talvez ele esquecesse o passado, talvez esquecesse a existência do amor que sentia, entretanto pensar nisso o enlouquecia cada vez mais, e seu coração morria a cada lembrança.
Antes de ir para o hospital ele pegou o caixão que os dois dormiam juntos às vezes, o caixão que ela escolheu para morrer.
Olhando para o caixão muitas lembranças retornaram, pois aquele caixão foi marcado com a primeira vez que fizeram amor, antes disso, Simone sempre tinha se guardado com medo de sofrer e pensar que ele não aceitaria que ela teria que partir.
Em seu coração Thomas sempre soube que a perderia, sempre soube que não era bom o suficiente para ela, mas viver isso, o fazia querer morrer ao seu lado.
- Quando você foi ao banheiro no dia anterior da morte de Simone, e não saiu do hospital. Ela me entregou um bilhete e disse para só te entregar quando ela se fosse. -disse o médico
Ele leu o bilhete em pensamento:
“Eu sempre soube que não poderia viver para sempre com você, mas saiba meu anjo, meu amor sempre estará com você.”
No fim do bilhete tinha um beijo de batom, a cor do batom que era preferida dele, uma cor lilás que ela usava quando eles brincavam em casa de quem deixava mais marcas de batom um no outro.
O médico era agora a única pessoa na qual ele tentava confiar, seu nome era Artur, um homem que mostrava seriedade e preocupava com o bem estar de Simone.
-Obrigado pela ajuda, acredito que ela nunca agüentaria viver tanto tempo sem o tratamento. - Disse Thomas.
- Eu fiz o meu dever.
- Eu sempre serei grato.
Ele foi até o caixão e o abriu, era um caixão em que ele conseguia sozinho levantar, nele havia uma alça que ele fez e na parte para colocar a costa havia um forro para não doer suas costas.
Simone pensou todo o momento no que Thomas poderia fazer na morte dela, cada atitude, cada palavra, agora tinha um significado, até mesmo as coisas que ele não entendia começaram a tomar uma visão mais detalhada e de entendimento sobre o assunto.
O amor por ela sempre foi à razão de Thomas lutar por tudo, e agora teria que lutar apenas por sua promessa, era algo que ele não queria fazer, mas deveria.
Seu coração se tornava frio e as feridas aumentavam juntos com as lembranças de seu amor.
-Me deixe sozinho... Por favor - Disse Thomas.
Artur saiu e Thomas fechou os olhos, buscou forças para não chorar, mas as lagrimas começaram a cair novamente, sua vida tinha passado de forma inútil até se encontrar com Simone, mas depois ele se tornou útil, útil para o amor, para o que mais ele seria capaz de ser útil?
Muitas perguntas vieram a sua mente e seu coração foi se tornando pura dor, sua pulsação era pesada e seu olhar era puro sofrimento.
Mas algo diferente havia naquele quarto, pois quando ele abriu seus olhos viu duas criaturas.
As duas possuíam asas, uma era escura e tinha um olhar maligno, enquanto outra possuía uma aura branca e possuía um olhar de tristeza.
Existia tanta beleza e fúria, Thomas nunca viu algo tão diferente em sua vida, e aquele simples hospital se tornou uma arena, mas ele não sabia qual o motivo da luta e o que era aquelas criaturas.
Parecia que o hospital estava vazio e somente ele e aquelas criaturas estavam ali, e em sua mente apenas o medo e a curiosidade atuavam.
-Q... Quem são vocês? – Disse Thomas aos poucos.
Seus corpos tinham asas, porém a estrutura parecia a de um humano, se não fosse pelas asas e a força que eles ali usavam.
- Você sempre viveu para as coisas inúteis, mas a partir do momento em que você conheceu Simone, você percebeu o valor da vida. - Respondeu a criatura branca.
- Eu sempre soube disso. Mas me respondam... Por que estão aqui?
- A alma dela deve ser levada para a escuridão ou a luz, e não existe purgatório para ela. Existe apenas nossa luta, pois nós a acompanhamos desde pequena- Disse a criatura branca.
Thomas nada entendia, tentava entender, mas a cena estava muito confusa, duas criaturas brigando por sua amada, que caminho era esse que eles falavam? E se era o inferno ou o céu, eles realmente existiam?
- Pare de tantas perguntas... Seu tolo- Gritou a criatura negra, empurrando com força à branca.
- Parem vocês dois de lutar... Não serão vocês quem decide aonde ela deve ir.
Os dois pararam e riram.
- Parem com isso.
- Você não entende mesmo... Não é?- Respondeu a criatura branca.
Ela se aproximou dele e tocou em seu rosto:
- Não entende que se não lutarmos, não haverá nada para Simone depois?
-Não.
- Seu tolo, nunca ouviu falar de demônio ou anjo? Purgatório e tudo mais?- Disse a criatura negra empurrando uma cadeira com força para seu lado se sentando.
- Calma- Sorriu então o anjo
- Calma a que... Tenho mais o que fazer.
O anjo sorriu, foi onde Simone estava e passando as mãos em seus cabelos ruivos e desceu a sua mão tocando a mão a dela.
- Vê aquela que mudou sua vida?
- Sim. – Thomas estava olhando para Simone e em sua mente o passado o machucava
- Pois bem, eu e ele estamos lutando para que ela vá para o inferno ou para o céu. Eu sempre fui o anjo da guarda de Simone, e quando vocês se conheceram, me tornei o seu anjo também.
- Eu- levantou a criatura negra- Sempre estive com ela, mas não pude ficar muito tempo... Esse maldito puritano sempre teve mais ligação com Simone, e quando ela te conheceu toda a sua bondade foi ao máximo.
A criatura branca foi até Thomas e estendeu a mão para ele:
- Quer que eu te mostre tudo o que aconteceu? E por que estamos aqui?
- Sim. – Respondeu Thomas estendendo a mão e tocando a mão do anjo
Em sua mente começou a aparecer o momento em que eles se conheceram, o bar lotado todos estavam bebendo, e somente Thomas jogando bilhar sozinho.
Enquanto Thomas jogava bilhar viu Simone sair do bar e ir se sentar em uma das mesas com os amigos. Enquanto a olhava ele começou a sentir algo diferente por ela.
Os amigos de Simone olharam para ele e um deles se aproximou e falou:
- Quer mais alguém para jogar?- Disse um dos amigos de Simone, pegando um taco em cima da mesa de bilhar.
Thomas olhou para Simone por um tempo e respondeu:
- Não. Podem jogar.
Ele saiu da mesa de bilhar sentou-se em uma mesa sozinho, e ficou olhando para os amigos de Simone, todos estavam felizes, eles não tinham maldade no olhar, como as outras pessoas do bar.
Algo diferente havia em Simone, parecia que toda alegria estava dentro e fora dela, e o mundo tivesse algo além do que conhecia.
A cada virada da bebida sentiu vontade de falar com ela, de conhecer, tocar, sorrir, ver o que a fazia ser realmente tão feliz, mas algo dentro dele o impedia.
Olhar para ela o fazia se sentir bem, seus lindos olhos azuis e seus cabelos de cor vermelha lindo, seu sorriso era cativante e seu corpo era perfeito.
Em seu coração tomou coragem para se apresentar a ela, tanta adrenalina havia ali, pensar que conheceria quem ela era e ver se ele teria chance de algo a mais.
Mas aconteceu uma situação estranha, pois Simone que foi chegando até ele, com um lindo sorriso e uma bebida na mão.
- Desculpa o pessoal ter pegado sua mesa de jogo. - Disse a garota.
- Ah. Tudo bem, eu estava sozinho mesmo.
-Qual seu nome?
- Thomas e o seu?
-Que nome diferente, fazia tempo que não o ouvia. Meu nome é Simone.
Os dois sorriram e algo dentro de Thomas dizia que ela era a pessoa ideal para ele, algo em seu coração havia mudado, pois Simone era realmente alguém diferente de tudo o que ele tinha visto.
O anjo soltou sua mão e Thomas disse:
- Me volte para lá... Por favor. - E o sentimento era alegria e dor, pois ver novamente seu passado o fazia sonhar na sua maior alegria de existir.
-Eu vim aqui por outras razões, vamos acabar logo com isso- Disse o demônio começando a se enfurecer.
- Thomas, sabe quem fez com quem ela se aproximasse de você? Fui eu, eu sussurrei nu ouvido dela, para que ela visse quem você era. Eu coloquei a curiosidade para ela te conhecer e coloquei coragem para ela te amar-Disse o anjo.
- Por que você fez isso?
- Eu sou o anjo da guarda dela, e um dos meus propósitos era colocar em sua vida um humano que a amasse.
- Você atrapalhou todos os meus planos- Disse a criatura negra com um olhar insano.
O demônio empurrou de forma bruta o anjo e levantou Thomas:
- Agora quer saber onde eu atuei? Olhe nos meus olhos e verá.
Thomas olhava o tempo todo para cima, estava com medo do que poderia ver, e talvez tivesse medo de saber que ele também era mal.
-Olhe para mim. - Gritou a criatura negra.
O demônio tocou em seu rosto e virou seu rosto para baixo:
- Veja o porquê estamos lutando, porque eu preciso logo terminar isso.
Thomas olhou em seus olhos e a mente dele começou a ver novamente o bar, porém havia um clima pesado, toda a paz que estava ali sumiu e quando ele olhou para um dos amigos de Simone havia uma aura negra nele.
Uma criatura estava em volta do amigo de Simone, o demônio estava falando algo em seu ouvido, enquanto Simone e Thomas conversavam na mesa.
- Ei sai de perto dela, ela é minha. - Disse o amigo de Thomas.
- Não liga- Disse Simone.
- Sai de perto - Disse o amigo empurrando Thomas.
- Ei cara, calma, eu não quero brigar.
A criatura negra sussurrou algo no ouvido do amigo de Simone e ele enlouquecido, o empurrou e começou a bater muito nele.
Thomas se defendeu, enquanto o amigo de Simone batia nele, ele estava contendo sua força, pois não queria machucar o amigo de Simone.
- Sai de cima dele- Disse Simone empurrando o amigo.
O rosto de Thomas estava sangrando, e Simone disse:
- Rodrigo seu inútil, saia daqui.
- Ele bate bem- Disse Thomas sorrindo.
- Seu tonto você devia ao menos ter se defendido.
Simone colocou o cabelo atrás da orelha e seu rosto ficou um pouco vermelho.
- Dá próxima vez, se defenda. - Disse ela batendo levemente no braço dele.
Os dois começaram a sorrir e Thomas se levantou, sua roupa estava toda amassada e sua boca estava sangrando. Simone limpou a boca de Thomas com a mão e estava sorrindo. Seu olhar estava tão puro. Sua alegria era algo tão distante da realidade dele.
O demônio soltou Thomas e as visões se apagaram de sua mente.
- Eu tentei impedir que vocês ficassem unidos, mas não, você tinha que se conter. Seu inútil.
A criatura negra começou a chutar o estomago de Thomas, porém o anjo voou e segurou o demônio, mas este começou a dar socos violentos no estômago do anjo.
- A luta é entre mim e você. -Disse o anjo segurando o demônio.
- Ele atrapalhou meus planos, o demônio dele não o dominou na hora mais definitiva. - Gritou o demônio.
- Essa luta é nossa. Eu sempre cuidei dela, enquanto isso você sempre fez o mal para ela. Então não o envolva.
Thomas estava começando a entender, Simone sempre o salvou se não fosse naquela noite, ele nunca seria o que ele era hoje, se não fosse por ela, talvez estivesse perdido na sua existência.
- Agora você entende não é Thomas? É preciso ter essa luta, ela teve atitudes más e boas, porém quando ela o conheceu toda a bondade que existia no coração dela foi exposto e usado para você e para os que rodeavam, quando vocês se conheceram, o amor tomou conta da existência de vocês.
O demônio e o anjo começaram a lutar, um começou a socar o outro com uma força que Thomas nunca viu, em seu olhar havia ódio e loucura, enquanto o outro se protegia e batia com uma força surreal, e este gritava o tempo todo para o outro parar.
Uma luta que mudaria o destino da alma de Simone, porém Thomas não podia ficar ali, ele tinha que levar seu corpo para a montanha, cumprir sua promessa e mostrar que seu amor era realmente forte, superando até a morte.
Thomas foi até o caixão e olhando para o revestimento do caixão, a cor vermelha que ela tanto gostava ao passar a mão no veludo sua lembrança voltou. Ele criou uma alça para segurar o caixão e na parte das costas do mesmo tinha um veludo para não machucar muito a costa.
Apenas a dor da morte era suficiente e sufocante.
A primeira vez que fizeram amor foi o momento mais marcante para ele, pois ele soube que Simone realmente confiava nele, naquele momento Simone entregou o seu coração para Thomas e isso era o suficiente para ele viver.
- Sabe Thomas, ela sempre foi feliz com você. Mas eu me pergunto, será que agora você consegue ser feliz apenas com as lembranças? Ser feliz com o que ela fez em sua vida? Ela te fez alguém melhor. Pretende manter o que ela te ensinou ou vai mudar tudo pela dor?- Disse a criatura branca.
Thomas sentia que tudo estava realmente mudando, mas ele não podia simplesmente ser dominado pela loucura da perda.
 Tudo que eles tinham vivido o fez querer ser o melhor, pois era para ela que ele se dedicava agora na sua morte, ele não podia deixar a sua morte em vão, tinha que superar a dor e cumprir a promessa, pois a alma de sua amada estava sendo assunto de um duelo.
- Tem alguma coisa que eu possa fazer para ela ir para o céu?- Perguntou Thomas.
- Tem-Respondeu a criatura branca dando um forte soco na criatura negra- Você tem que fazer a última coisa que ela pediu. Esse ato ira provar definitivamente que ela fez você ser forte e melhor.
O demônio avançou e deu um chute no anjo, havia ódio em seus golpes, havia um olhar louco e agressivo.
- Por que você disse? Seu maldito.
- Era necessário, ela pertence ao lado bom, não ao seu- Disse o anjo dando socos na costa do oponente.
Thomas passou ao lado deles e olhou para Simone, seu corpo estava imóvel, sua alma não estava nem no céu e nem no inferno, e somente ele poderia salva-la.
Era algo meio irônico, pois ela o salvou tantas vezes com sua bondade, com seu sorriso e seu amor que suportava todos os erros que Thomas possuía.
- Ande logo e a salve- Disse a criatura branca dando socos no rosto do demônio e começou a dar socos fortes no estômago do demônio.
Thomas tirou o corpo de Simone da maca e levou até o caixão, os olhos de Simone ainda sorriam, e seus lábios não possuíam mais o brilho que ainda possuía.
- Vá logo. - Gritou o anjo.
Thomas fechou o caixão e o colocou em suas costas, e o peso o fez sentir a responsabilidade da situação que estava vivendo.
Ao sair do hospital seus passos foram rápidos, queria chegar logo à montanha aonde ele sempre ia com Simone, queria poder salva-la e saber que realmente ela o tinha salvado antes.
Ele ligou para um dos amigos de Simone, era algo difícil digitar aquele número, mas não tinha muito que pensar, era por Simone, ela era a razão.
- Preciso que me leve até a montanha que eu e Simone íamos, pode fazer isso?- Disse Thomas.
- Ela morreu?- perguntou o amigo começando a chorar.
- Sim.
-Não acredito que você ligou para mim, estou feliz por isso. Fale-me o hospital e estarei ai em breve.
Thomas então passou o endereço e ficou esperando o amigo, e enquanto esperava conseguia ouvir os gritos do anjo e do demônio. O amigo de Simone chegou a algumas horas e disse:
- Vamos lá.
Thomas sentou no carro e olhou para o amigo, esse amigo que tinha sido usado antes por um demônio agora o ajudava. A vida segue caminhos estranhos pensou ele sorrindo.
Ele colocou o caixão de Simone na parte de trás do carro e então foram para o aeroporto onde o amigo tinha um avião em que ele trabalha.
- Obrigado mesmo. - Disse Thomas.
- É o mínimo que eu podia fazer, eu fui muito tolo naquela noite.
Eles sorriram e foram para o avião, enquanto isso Thomas pensava no passado e refletia sobre quantas coisas ela o fez mudar, pois pensamentos e atitudes ele fez.
- Vai sozinho ou quer companhia?- Perguntou o amigo quando eles chegaram.
- Quero ir sozinho, é algo que somente eu posso fazer.
- Ok. Ligue-me quando retornar e vamos sair para beber.
Thomas o abraçou e agradeceu mais uma vez, e então foi subindo a montanha, em sua mente foi aos poucos se lembrando dos momentos de alegria que havia ali, quando chegou a ao topo estava escurecendo, e sua caminhada durante o dia foi rápida, pois queria cumprir logo o pedido de seu único amor.
As lembranças começaram a dar forças para ele seguir, forças para salvar a sua amada, forças para acreditar que ele a amaria mesmo depois da morte e forças para saber que quando ela se fosse, ele ainda estaria forte para ter uma morte feliz, sabendo que ela o estaria esperando.
Simone estava em todos os lugares para ele, ele conseguia ver ela o ajudando e o levando ao topo, como um lindo anjo.
Cada passo tinha mais força e alegria, e as tristezas começaram a sumir, e uma nova forma de pensar estava em sua mente, uma nova alegria de saber que realmente estava fazendo o certo.
Quando ele chegou ao topo da montanha, ele colocou o caixão no lugar onde ela gostava, um lugar que tinha lindas flores azuis como a cor de seus olhos. Ao chegar à montanha, Thomas sentia um cansaço, mas seu sentimento era alegria, uma alegria diferente de tudo, pois sua meta estava cumprida.
Então algo diferente aconteceu ali, o anjo que estava no hospital apareceu para ele novamente sorrindo, tocando seu rosto
- Você a salvou, graças a sua atitude eu fui capaz de vencer a batalha. - Disse o anjo
Thomas sorriu e abriu o caixão de Simone, ver novamente seu rosto o entristeceu e pensar novamente que ela se foi e não voltaria o fez chorar.
- Ela ira para um lugar melhor.
- Eu sei, mas vou sentir a falta dela.
O anjo tocou em seu ombro e disse:
Thomas ficou com um pouco de vergonha, mas mesmo assim perguntou:
- Eu tenho... Tenho chance de ir para o céu?
- Todos têm Thomas. Mas quer saber de uma coisa, você tem grandes chances, pois desde que ela entrou em sua vida, você se tornou alguém melhor.
Thomas se aproximou de Simone e beijou seus lábios.
- Cuide de mim lá de cima ok?- Disse ele sorrindo e chorando.
Ele então foi olhar para o anjo, mas ele tinha desaparecido e as lagrimas começaram a cair novamente, dor e felicidade estava em sua mente, mas era necessário seguir em frente.
“Anjos andam pela terra o tempo todo, Simone sempre disse que eu era um, mas no fim ela sempre foi o meu, sempre foi a minha luz”-pensou Thomas deixando suas lagrimas caírem de felicidade, pois ele poderia se encontrar com Simone no futuro.


Num futuro onde suas almas nunca mais se separariam e por mais que as palavras até que a morte os separe nunca tivesse sido dita, seria possível existir um novo encontro para eles. Em um futuro, um momento em que somente a morte poderia conceder.

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