quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Crônica: Ensaios dela

Ouço sua voz, a suave voz que quer me acordar.
- Acorde... - Ela me chamou, beijando minha testa e tocando em meu corpo suavemente.
Sua mão é delicada, sem movimentos bruscos, apenas apreciando cada curva, cada respiração, senti seu corpo se aproximar do meu, respiração intensa, seu olhar intenso perto de mim.
Abri meus olhos lentamente e a vi seu cabelo curto e tinha um corte repicado, com uma franja que estava começando a crescer e assim ela sorriu pra mim.
- Ok Dani. Acordei....Agora por favor, me de um beijo, se não vou acordar triste 
Daniela, minha namorada veio se movimentando lentamente da cama para me beijar, com seu doce sorriso ela me beijou e assim eu pude me sentir feliz novamente. Ela esta comigo, apesar das dificuldades da nossa sociedade, toda a critica corrosiva do protótipo de amor, ela esta comigo.



Sofremos muito chegar aqui, ofensas da família, alguns pseudo-amigos, outros desconhecidos religiosos que apenas nos viam na rua e nos acusavam, falando que foi nossa culpa o mundo estar cada vez pior. Críticos que não entendem o amor livre,  pessoas que falam de Jesus, mas nem entendem o amor, acreditam tem a fórmula perfeita e ideal para amor e esquecendo constantemente que somos criaturas imperfeitas.
- Precisamos nos levantar linda - Disse Daniela.
Abracei e senti seu cheiro, apenas seu perfume natural que me atraiu desde a primeira vez que a vi na roda de alguns amigos meus.
Daniela tocou seu nariz no meu e beijou meus lábios novamente e disse:
- Levanta logo preguiçosa, tenho uma programação especial para nós hoje.
Ela foi tirando minhas mãos de seu corpo lentamente e tirou o cobertor que a estava cobrindo, espreguiçou, sorriu e ligou o rádio que estava tocando alguma música pop, não consegui assimilar a música, pois só conseguia olhar para a Daniela,a a minha moça.
Me levantei e olhei para a janela do apartamento, as crianças brincavam, alguns jogando bola,outros correndo como se não houvesse amanhã, enquanto algumas meninas estavam sentadas em uma roda conversando.
Pude ouvir a porta se abrindo e Daniela estava saindo do quarto, indo para a cozinha, talvez.
- Mel, amor, troque de roupa e venha para a cozinha tomar o café da manhã. Quero sair logo com você.
Sai da janela e coloquei minha camisa laranja com riscos preto e coloquei minha calça jeans escura e meus tênis sujos, pois sempre que a Dani falava que tinha alguma coisa planejada envolvia sujeira e terra.
- Amor, quais seus planos? - Gritei do quarto, enquanto passava um perfume em meu pescoço.
Ela abriu o quarto toda animada com as chaves do carro na mão e me abraçou:
- Vamos para a praia - Dani disse com aquele seu sorriso encantador que não me deixava dizer não, com esse sorriso ela poderia me levar a qualquer lugar.
Fui até ela e a abracei mais uma vez, como era bom sentir sua pele tão perto da minha...
- Só falta você se vestir pra sair Dani
Ela sorriu e sussurrou no meu ouvido:
- Esteja preparada para a praia, não importa quantas pessoas estejam lá nós vamos nos divertir.
Tomamos nosso café-da-manhã ouvindo a dupla alemã BOY e conversamos sobre o dia, a música, a literatura , tudo o que nos uniu. 
Olhei em seus olhos claros, sua pele branca e levemente arrepiada aos meus toques, alguns sorrisos, conversas divertidas e casuais, essa foi nossa manhã e com ela todas as manhãs tem um brilho diferente.
As vezes eu reflito em como o amor tem sido julgado, para mim é tão simples amar, é simples sentir, as vezes sofro ao amar, mas esse é o bônus que acompanha essa palavra com tantos seguidores.
Daniela pegou em minha mão após o café-da-manhã e então nosso dia de aventuras começou, primeiro ela abriu a porta do carro, beijou minha bochecha e assim entrei no carro, ela dirigi com frequência o carro, sempre no comando.
A estrada estava calma com um vento em nossos rostos, poucos carros no caminho e músicas constantes da rádio. Apesar da estrada da calma nós encontramos alguns problemas com um acidente na estrada na qual a Dani sempre gosta de olhar, enquanto eu sempre não consigo ver, sempre fico mal ao ver. 
Chegamos a uma lanchonete no meio da estrada, Daniela puxou meu rosto e me deu seu beijo, senti novamente toda a vertigem e a perna trêmula de estar com ela ,as vezes eu não consigo acreditar que estou com ela.
Na lanchonete tinha algumas pessoas que nos olhavam de mãos dadas e sorriam para nós,enquanto outros conservadores olhavam rápido e balançavam a cabeça em reprovação. Esses momentos de preconceito acontecem constantemente, apesar de muitas pessoas não ligar para a nossa opção sexual, outras ficam ofendidas a ponto de nos ameaçar na rua e a maioria sempre fala que o inferno é nosso lugar, que somos profanas, apenas por amar uma a outra.Nunca vou entender e não quero entender esse amor, um amor que é apenas baseado no homem e na mulher, sendo que ainda existe muitos casais héteros que são infelizes, muitos que não estão dispostos a amar, estão apenas conformados em ter alguém - desculpe meus devaneios constantes, mas as vezes eu preciso desabafar,pois nós que amamos as pessoas do mesmo sexo somos discriminadas constantemente e isso é cansativo e doloroso.
- Vocês não deviam vir para essa cidade, somos um povo de Deus - Algum homem, provavelmente sentado nas mesas do fundo da lanchonete gritou, tentei encontrar a pessoa, mas a lanchonete estava lotada e com muito barulho devido as conversas.
Daniela me beijou na bochecha e disse:
- Escolha alguma coisa logo para comer, eu vou ao banheiro e já volto. Me espere aqui.
- Como se eu fosse sair daqui sem você - sussurrei em seu ouvido tentando me aproximar de seus lábios, porém ela se afastou e foi ao banheiro.
Comprei a coxinha que ela era viciada e a minha empada de frango e algumas latinas de chá gelado que eu estava incentivando a Dani a evitar tomar refrigerante.
- Saiam logo daqui - Gritou uma mulher com raiva.
Dani saiu correndo do banheiro e pegou em minha mão me fazendo acompanhar seus passos, algumas pessoas ao ver isso levantaram da cadeira e tentaram falar conosco, mas a pressa foi maior e a necessidade de parar de ouvir as ameaças desnecessárias.
Entramos no carro e minha namorada gritou:
- Por que isso sempre acontece? Não aguento essas pessoas fingindo ser puritanas.
Ela ligou o carro e continuamos na estrada, toda a paz da estrada antes da lanchonete terminou e os gritos continuaram, algumas vezes ela não falava nada e depois gritava. Dani sempre foi mais frágil que eu nesse sentido de preconceito, pois ela sofreu muita discriminação, seus tios manipularam para que todos os primos se afastassem dela e fazia 3 anos que ela não via o primo que ela mais amava.
- Calma amor... 
Baguncei seu cabelo e assim seu sorriso saiu e a minha garota meiga retornou:
- É que você sabe tudo que passei para estar com você Melissa, e essas situações constrangedoras sempre me estressam. As vezes eu penso em morar em uma ilha deserta, só eu e você...
- Você não ia me aguentar em uma ilha deserta, só ia ter eu, você e nossa chatice acumulada - cutuquei sua barriga e ela sorriu novamente.
- Eu te aguento, consigo viver apenas com você, mas esses pseudo-humanos fingindo saber a fórmula perfeita do amor me irritam. 
Antigamente ao ouvir seus desabafos eu tentava fazer com que ela se acalmasse e mostrava a visão dos outros, mas não tenho mais animo para "salvar" aqueles que nos ofendiam sem nem ao menos saber nossos nomes ou descobrir nossa história.
Daniela ficou triste durante a viagem, apesar das minhas tentativas para aliviar a tensão, mas a questão é que quando ela aceitava a dor, não era possível ajudar, pois todas as lembranças ruins voltavam com intensidade para minha namorada.
A viagem foi rápida e chegamos a praia, assim que chegamos, Daniela parou o carro no estacionamento próximo a praia.
Colocamos o biquíni no carro e enquanto trocamos de roupa, alguns beijos e toques aconteciam com o som do mar e de algum pop rock no rádio do nosso carro. 
Seus beijos voltaram a ser ardentes com aquela intensidade que somente ela poderia me dar e os toques eram ardentes em meu corpo.
Minhas mãos passavam em seu ardente corpo, mas ouvimos os homens do estacionamento chegando ao carro, então saímos do carro e Dani entregou a chave do carro para funcionário que estava cuidando dos veículos.
Fomos correndo até a praia e a areia passava em nossos pés, a sensação de liberdade tomava conta e apesar de ter muitas pessoas ao nosso redor, nada disso importava, pois era o nosso momento. 
Daniela tocou em minha mão e me puxou para perto dela: 
- Que a eternidade nos abrace nesse dia - Disse ela, me dando um beijo demorado em seguida, me mantendo ainda mais desligada de todo Mundo,






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A crônica tem continuação, espero que vocês possam acompanhar e conhecer mais dessas personagens e do amor que as une.

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